A HISTÓRIA DA TRAVESSIA DO HIDROAVIÃO JAHÚ

JOÃO RIBEIRO DE BARROS

Comandante do hidroavião JAHU, com o qual cruzou o Oceano Atlântico em 1927, através do memorável reide internacional “Gênova – Santo Amaro”, tendo como tripulantes o navegador Newton Braga, o co-piloto João Negrão e o mecânico Vasco Cinquini, substituído por Mendonça, já no Brasil.

RESUMO BIOGRÁFICO

João Ribeiro de Barros, nasceu em Jahu, Estado de São Paulo, aos 4 de abril de 1900 – ao raiar, portanto, do luminoso século XX – nas mesmas terras desbravadas por seu avô paterno, Capitão José Ribeiro de Camargo Barros, um dos fundadores da cidade.

Descendia do casal Sebastião Ribeiro de Barros e de D. Margarida de Oliveira Barros, o qual, graças ao seu gesto destemido e patriótico ligado à façanha do filho, imortalizou-se com ele nas páginas da História.

João Ribeiro de Barros fez seus estudos iniciais no Ateneu Jauense e os secundários no Instituto de Ciências e Letras de São Paulo, com notável aproveitamento. Cursou até o segundo ano a seção de Estudos Jurídicos e Sociais da Universidade de São Paulo.

Jovem inteligente e de temperamento heróico, sentia-se empolgar pelas coisas da aviação – atividade fascinante e sedutora no início do século. Essa paixão, aliás, fora despertada por seu próprio pai, quando a convite deste veio a Jahu o aviador Luiz Bergmann, nem grande esforço para divulgar a obra imperecível do genial brasileiro Santos Dumont.

Em 1919, abandonando o curso de Direito segue para os EUA, aprofundando-se nos estudos de engenharia mecânica, regressando ao Brasil dois anos depois. Aos 21 de fevereiro de 1923, após longo treinamento, conquistou o “brevet” internacional n.º 88, da “Ligue Internationale des Aviateurs”, da França.

Durante os três anos seguintes realiza vários reides pelo interior do País, quando então a febre do heroísmo ardia dentro dele.

Nesse mesmo período volta aos EUA, realizando um curso de pilotagem e navegação aérea, seguindo depois para a Alemanha, onde freqüenta uma escola de acrobacia aérea.

Em 1926, tomado de impulso incontrolável, planeja uma façanha inconcebível para a época: transpor o Oceano Atlântico com os recursos de uma única e rudimentar aeronave.

Este disputado reide, do qual falaremos adiante, seria concretizado no ano seguinte, com o hidroavião batizado com o nome de JAHÚ, em homenagem à terra natal do Comandante Ribeiro de Barros.

O REIDE INTERNACIONAL

“GÊNOVA – SANTO AMARO”

(Conhecido popularmente como “O VÔO DO JAHÚ)

Durante as comemorações do primeiro centenário da independência do Brasil, no ano de 1922, o governo português programa sensacional proeza aérea. Convocando dois de seus mais hábeis aviadores – Gago Coutinho e Sacadura Cabral – e utilizando-se de três aviões “Fairey”: Luzitânia, Sta. Maria 1.º e Sta. Maria 2.º e mais uma frota de navios disposta ao longo do percurso, consegue efetuar o primeiro vôo transoceânico, ligando Portugal ao Brasil.

O avião, porém para firmar-se como veículo auto-suficiente, precisava desligar-se definitivamente do amparo que lhe era constantemente prestado pelo navios, os quais o acompanhavam e o socorriam nos momentos críticos durante os vôos sobre o oceano.

Enquanto o avião dependesse dos navios como dizia Ribeiro de Barros, o engenho não apresentava sentido prático, constituindo-se assim, num autêntico parasita da navegação marinha.

As aeronaves da época não possuíam autonomia para grandes distâncias, pois seu raio de ação era reduzido.

Os países europeus, notadamente Portugal, França, Espanha, Inglaterra e Alemanha, promoviam, através de seus governos e de suas fábricas produtoras de aviões, os mais variados reides, sempre custeados por verbas oficiais. Foi a maior competição de homens e de máquinas já registrada pela história.

João Ribeiro de Barros pede auxílio ao governo brasileiro para empreender o mais sensacional reide da época: ligar pelo ares Gênova a Sto. Amaro, com um único aparelho de vôo, sem ajuda de navios. O governo negou-se a ajudá-lo por entender tratar-se de uma idéia absurda: se a Europa não o fez, como iríamos fazê-lo?

O piloto brasileiro não se deixa abater. Volta a Jahu, vende sua herança paterna aos irmãos, seguindo para São Paulo onde entra em contato com o sr. Luchini, representante da fábrica italiana Savóia Marcheti, propondo-lhe a compra de um hidroavião. A esse tempo, o conde Casagrande, sob a direção do governo real italiano, com um avião “Savóia Marcheti”, batizado com o nome de “Alcyone”, tentando um vôo da Itália ao Brasil, acaba desistindo do empreendimento em Casablanca, cumprindo apenas um quinto do percurso total. O aparelho foi considerado imprestável par ao reide.

Não se interessando pela venda de um aparelho novo ao piloto brasileiro, a fábrica lhe propõe a venda do mesmo “Alcyone” e sem outra opção, João Ribeiro acaba por adquiri-lo pela importância de $ 680.000 liras (200 contos, na época).

Ribiero de Barros contrata o mecânico brasileiro Vasco Cinquini, faz publicar no “O Estado de São Paulo” um anúncio oferecendo a oportunidade a um navegador experiente e brasileiro, e segue para New York onde vai ao encontro de seu mestre e amigo Gago Coutinho, com estuda detidamente o assunto.

RIBEIRO DE BARROS DA EUROPA

Já na Europa, em companhia do mecânico dá início ao penoso trabalho de restauração do avião: um pequeno monstro de madeira e lona, pesando mais de quatro toneladas, em precário estado de conservação. Ao iniciar os reparos ao aparelho, vai aos poucos introduzindo uma série de modificações a fim de adaptá-lo às necessidades do reide, mudando os radiadores, bomba de água, bomba de gasolina, tubulações e cabos, modificando os botes, dando-lhes formas aerodinâmicas, diminuindo a superfície de atrito dos mesmos e eliminando até o sistema de radiofreqüência, reduzindo ao mínimo a carga útil da equipagem. Cada quilo a menos era um quilo a mais de combustível para se vencer os 9.000 quilômetros que separavam os dois continentes.

Com as modificações introduzidas, o hidroavião tomou novo aspecto; melhorou sensivelmente a performance e estimulou o governo italiano a preparar outro avião idêntico, que seria entregue ao famoso piloto De Pinedo, para executar um reide oficial.

Era preciso, pois, retardar a saída do brasileiro. Estava em jogo o prestígio aeronáutico da Europa quando o piloto oficial do real governo italiano – Passaleva – disse textualmente ao engenheiro Marcheti (fabricante do avião): “Esse moço (Ribeiro de Barros) dará muitas glórias à sua Pátria”. Iniciava-se nesse momento a “via crucis” à qual haveriam de se submeter os destemidos aviadores brasileiros.

Ribeiro de Barros e o mecânico passaram a dormir, por várias noites, no próprio galpão da fábrica, trabalhando desesperadamente com o propósito de abreviar a data da partida.

VAI SER INICIADO GRANDE REIDE

Além do comandante e do mecânico, já se achavam na Europa o navegador Newton Braga e o segundo piloto, Cunha.

Às vésperas de se iniciar o tão esperado empreendimento, o jornalista italiano Décio Buffoni entrevista o Comandante Barros, o qual declara: “A iniciativa do reide, seu custeio e sua organização a mim me pertencem, exclusivamente. Chamem-me na empresa esportiva, se quiserem; mas, além da satisfação pessoal, pretendo tentar a demonstração de que um vôo através do oceano é possível, sem que o veículo conte com outros elementos além dos próprios. Portanto, nenhum cruzeiro naval no itinerário, nem auxílio a invocar por meio de radiotelegrafia. Para entrar no terreno da realizações práticas, em grandes travessias, a aviação deve contar somente com os próprios recursos…”

O reide até então sigiloso, passa ao domínio público internacional, “cuja atenção se volta estupefata para esse longínquo país sul-americano que ousava competir com as maiores nações do mundo, em assunto de tão magna importância técnica, financeira e cultural.”

18 de outubro de 1926 – O hidroavião batizado pelo comandante com o nome de JAHÚ, em homenagem à sua terra natal, decola de Gênova sob grande aclamação popular; mas seus tripulantes ignoravam a existência de sabão caseiro, terra e água nos reservatórios de combustível e um pedaço de bronze (hoje no Museu da Aeronáutica), colocado no fundo do carter do motor traseiro, introduzidos no JAHÚ, provavelmente na véspera da partida, quando os brasileiros pernoitavam no hotel, com o propósito evidente de impedir a realização do reide. Sórdida sabotagem…

Ribeiro de Barros faz um pouso forçado em Alicante, onde as autoridades espanholas alegando desconhecer os propósitos do pouso, prendem sumariamente os tripulantes.

Libertados os aviadores, após a interferência da Embaixada brasileira em Madri, o avião sofre alguns reparos e prossegue em seu penoso e acidentado vôo rumo ao Brasil.

Duas horas depois novo pouso de emergência em Gibraltar para substituição do combustível, impregnado de sabão. Nova decolagem, novos defeitos nos motores. A bomba de gasolina deixara de funcionar, mas, o comandante pede ao mecânico que se utilize da bomba manual que aquele mandara instalar ainda na Itália. O JAHÚ, em precaríssimas condições consegue atingir o Porto Praia, no arquipélago de Cabo Verde, em plena imensidão oceânica.

Em Porto Praia, depois de traído por um companheiro, João Ribeiro de se vê obrigado a desmontar os motores do aparelho, sem os mínimos recursos, pois, o percursos seguinte – 2.400 quilômetros – não permitia escalar intermediárias, pela inexistência de ilhas no trajeto. Foi um trabalho penoso para o mecânico e o comandante.

Durante alguns meses, dormindo sob tosca barraca de lona à beira da praia, trabalhando na recuperação do aparelho, cometido de quatro crises consecutivas de malária, em completo abandono, o jovem piloto brasileiro sofre ainda vexatória campanha desmoralizante, alimentada por um jornal carioca.

O TELEGRAMA DE DONA MARGARIDA

No momento em que suas forças se esgotavam, já as portas do desespero, o piloto recebe pelo telégrafo de Porto Praia a mensagem reanimadora de sua mãe, Margarina Ribeiro de Barros:

“Aviador Barros. Aplaudimos tua atitude. Não desmontes aparelho. Providenciaremos continuação do reide, custe o que custar. Paralisação do reide será fracasso. Asas avião representam Bandeira Brasileira…”

Mantendo inflexivelmente a vida do filho a serviço da Pátria, a atitude heróica dessa mãe paulista reergue as forças de Ribeiro de Barros, o qual, compreendendo o estado de alma do povo brasileiro, reanima-se prontamente, enviando a mãe distante o seguinte telegrama:

“A viagem de qualquer maneira será feita. Haveremos de aportar ao Brasil; e se isso não se der, estaremos assim mesmo pagos, completamente pagos porque o JAHÚ terá a mais digna sepultura, o mesmo oceano que haverá de banhar eternamente essa terra, tão grande nas suas riquezas, tão grande na sua História.”

EM BUSCA DA GLÓRIA OU DA MORTE

Na manhã histórica de 28 de abril de 1927, às quatro hora da madrugada, mil cavalos de força rompem o silêncio da noite, clareando tragicamente os arredores. “Fazendo meia volta, rumo para Oeste, com o comandante atacando os motores vigorosamente, o JAHÚ parte em fragorosa arrancada, espanando as vagas, para não mais volver a roçá-las. Vai o JAHÚ rumo ao Cruzeiro do Sul…

Na Pátria distante, convulsionada de espírito cívico, a vida nos escritórios e nas fábricas, nas casas e nas igrejas, marca em silêncio e enorme expectativa, aquele instante que passaria à história do século.

Voando impoluto, à velocidade de 190 KM/h (recorde absoluto durante os dez anos seguintes), enfrentando tempestades e fortes ventos oceânicos, o JAHÚ prossegue durante doze horas consecutivas a devorar o espaço que o separa da Pátria. Ao aproximar-se da enseada Norte de Fernando de Noronha, parte-se uma hélice e, mesmo danificado, o “pássaro vermelho” tendo ao comando a coragem hereditária de um brasileiro de São Paulo, faz o pouso triunfal em águas brasileiras.

A recepção aos destemidos aviadores foi simplesmente apoteótica. O povo brasileiro soube premiar seu herói, oferecendo-lhe mais de cem medalhas de ouro e platina, adornadas de pedras preciosas, dezenas de cartões de ouro e troféus, tudo em comemoração ao patriótico empreendimento que se tornou um justo motivo de expansão do orgulho nacional.

A IMPRENSA DOCUMENTA

Do “Rio Sportivo”, edição de 6-7-1927, transcrevemos os trechos abaixo:

“…não sabemos como descrever a alegria da nossa mocidade em sua consagração aos bandeirantes do espaço. Os grupos sucediam-se em frêmitos de júbilo incontido, deixando transparecer aos gritos de Jahu! Jahu! Jahu! A emoção que ia nas almas dos seus componentes.”

“Aqui eram bandos de rapazes do nosso comércio, precedidos de estandartes significativos, que, em saudações a Ribeiro de Barros, Newton Braga, Negrão, Mendonça e Cinquini, davam expansão ao seu entusiasmo. Ali eram levas de acadêmicos e colegiais que no mesmo diapasão exteriorizavam os seus impulsos patrióticos pela consecução do brilhante feito.”

“Antes de ingressarem na nossa principal artéria, em direção a praia do Flamengo, aonde deveria amerissar o JAHÚ, esses percorreram o centro da cidade, fazendo fechar os raros estabelecimentos que se conservavam abertos….”

“…Às 13 horas, a nossa principal artéria tinha o seu curso quase intransitável, dada a mole humana que nela expandia-se de permeio com a extensa fila de automóveis, que formavam um corso infindável”.

“Os foguetes e morteiros espoucavam no espaço…Os prédios da Avenida Rio Branco tinham as suas sacadas abarrotadas de gente…”

“Eram precisamente 15 horas…A multidão fremiu de entusiasmo e todas as atenções voltaram-se para a entrada de nossa baía, à cata da silhueta do JAHÚ. Já a esse tempo as sirenes estredulavam, os foguetes e morteiros baralhavam, enquanto que os sinos das igrejas repicam festivamente…”

“Eis que um ponto quase imperceptível se divisaa, assomando às colinas que cercam a nossa barra em sua margem esquerda, guardada por dois aviões navais, em posição de honrarias. Era, não havia dúvida, o JAHÚ… Uma vez avistado o JAHÚ, o movimento no Arsenal de Marinha assumiu proporções nunca vistas, preparando-se a recepção aos bravos aviadores… Os pilotos do JAHÚ foram ali recebidos sob aclamações estridentes, sendo carregados em triunfo nos braços do povo…”

“Enquanto das sacadas eram atiradas pétalas de flores sobre as cabeças dos heróis do ar, os gritos e palmas ecoavam de um modo ensurdecedor. As bandas de música executaram a marcha “Salve, Jahu”, que era entrecortada de aplausos frenéticos da multidão”.

O avião JAHÚ – único remanescentes do grande delírio transoceânico da década de 1920 – encontra-se hoje no Museu da Aeronáutica, Ibirapuera – São Paulo, juntamente com todos os prêmios recebidos pelo piloto jauense.

A notável façanha de Ribeiro de Barros ensejou também grandes demonstrações de admiração e carinho fora do Brasil: Ordem do Tosão de Ouro, de Portugal; de São Francisco e São Lourenço, da Itália; Cavalheiro da Legião da Honra, da França e dezenas de outras, além da mais alta honraria da Coroa da Bélgica.

Durante a sessão cívica solene, realizada no dia 2 de agosto de 1927, no Teatro Municipal de São Paulo, em homenagem aos tripulantes do JAHÚ, o deputado Hilário Freire, em seu discurso oficial, referindo-se a importância do reide, assim se manifestou: “…o vôo do JAHÚ, é uma arrancada e uma primícia continental. Foi a primeira jornada, através do Atlântico Sul, realizada por americanos do Sul. Os técnicos da América do Norte elogiosamente proclamaram pelos seus órgãos mais autorizados e unânimes mandando-nos declarar “que o brilhante feito dos aviadores brasileiros veio demonstrar que a nossa irmão do Sul é constituída por homens a quem todos os americanos podem, com justo orgulho, chamar americanos”.

“Vede a história da aeronáutica, desde o seu crepúsculo matutino até a arraiada de nossos dias. Da América do Sul só o Brasil figura na vanguarda dos decifradores do espaço. Só o Brasil representa o continente nas páginas fundamentais de sua epopéia. Todos os grandes nomes sul-americanos são nomes brasileiros. Não escapou essa significação continental ao comandante Júlio Merino , da galharda corveta chilena “General Baquedano”, quando exclamou: glória conquistada pela aviação brasileira foi um triunfo americano…”

A “Ligue Internationale des Aviateurs”, sediada em Paris, confere ao comandante João Ribeiro de Barros, em 1937, a sua distinção máxima – o troféu “Harmon”. Nas três Américas, ao que consta, apenas Charles Lindbergh conseguiu tal honraria, após realizar seu vôo solitário pelo Atlântico Norte, 23 dias depois do reide do JAHÚ.

Dentre as inúmeras condecorações e distinções legadas pela família Ribeiro de Barros ao Museu da Aeronáutica de São Paulo, destacamos uma coroa de louros, com os dizeres: “Após Ruy Barbosa – Ribeiro de Barros foi o segundo brasileiro a cingir uma coroa de louros. Escadarias da Faculdade de Direito de Recife. 1927”.

CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DO “JAHU”

Gênero – Hidroavião DO “JAHÚ”

Dois motores: anterior (travito) n.º 103; (propulsivo) n.º 104 – Marca Isota Fraaschini.

Equipagem: 4 postos.

Categoria, normal.

Abertura Máxima das asas, 24,00 m

Comprimento máximo: 16,20 m

Altura: 5,70 m

“Concepção de motor moderno de aviação, de 12 cilindros em “V” com uma abertura de 60º. Cilindros de aço carbono forjado, tendo as camisas ajustadas e soldadas autogenicamente. Cabeças de alumínio fundidas em um só bloco para cada 6 cilindros, ligadas por parafusos, com 2 câmaras, e dispositivo para a circulação de água, servindo ao mesmo tempo de guia para as válvulas e de “carter” de alumínio com nervuras, compreendendo: parte superior que serve de base aos cilindros, de suporte para as árvores de manivelas e de guia para as engrenagens de distribuição. Parte média, que serve de suporte e à bomba de circulação de água. Parte inferior destinada a recolher o óleo de circulação, e de inspeção às manivelas. Parte póstero-inferior central, cujo papel é o de manter os comandos dos magnetos, das bombas de gasolina e dos quatro carburadores de cada motor”.

Hélices tipo S.I.A.I.

Passo: anterior – 1880/1950

posterior – 1999/2200

Diâmetro: 3,00 m

Peso Aparelho:

Vazio: 4.500 Kg

Gasolina: 2.250 Kg

Óleo: 300 Kg

Equipagem: 300 Kg

T.S.F.: 50Kg

Carga útil: 567 Kg

Tempo médio de decolagem: 1 minuto e 25 segundos.

Em 8 minutos, ascende a 1000 metros.

Transcrição parcial do hidroavião JAHÚ feita das páginas 19-20-21 – História Heróica da Aviação.

RESIGNAÇÃO E PATRIOTISMO

A PERSONALIDADE DO HERÓI

Após concluir com êxito o dramático reide internacional, ligando a Europa ao Brasil, Ribeiro de Barros recebeu uma das maiores consagrações prestadas a um brasileiro – não só do País, como do exterior. As festividades oficiais e a proclamação pública, prolongaram-se por vários meses, em todos os recantos da Pátria por onde passava a tripulação do JAHÚ.

A respeito do piloto jauense, disse Gerson Mendonça: “De fato, ninguém, traçou na história dos povos sul-americanos destino mais alcandorado e nobre que João Ribeiro de Barros. Ele tornou-se herói vivendo e sagrando na sua mocidade explendente, que poderia usufruir todas as escalas do gozo e do conforto, no ócio ou no prazer, todas as lutas, todas as apreensões, todas as desditas, todas as amarguras, todos os sofrimentos que têm em regra de enfrentar e de sorver os idealistas e os otimistas na consecução de seus planos e de seus propósitos quando estes têm de entestar a um tempo com as adversidades da maldade humana, da inveja e do ciúme, e com as adversidades frias e incontornáveis da natureza inclemente. Aparecendo em Gênova junto às indústrias aviatórias mais famosas do mundo no momento, na singeleza e na humildade de um jovem brasileiro desacompanhado, a fim de encomendar às expensas suas o hidroavião que já batizara com o nome de sua terra, quando outros aviadores internacionais eram sempre financiados pelos governos, pelos sindicatos e pelas empresas de classe, encontrou logo o nosso herói as maiores dificuldades por apresentar seus diplomas da Escola de Aviação de Campinas e do Aero-Clube do Brasil necessitando credenciar-se como piloto capaz através de testes e de exercícios que comprovaram sua perícia, e de títulos técnicos que possuía e que não desejara a princípio exibir, de grandes escolas aviatórias estrangeiras”. (Asas Brasileiras, p. 13).

Refeito do desgaste físico a que foi submetido durante o reide e recuperado o êxtase emocional durante o reide e recuperado o êxtase emocional causado pela inacreditável conquista, Ribeiro de Barros segue para a Europa, em 1929, onde adquire da fábrica francesa “Breguet” um grande aparelho, com o qual pretendia realizar nova façanha: sair voando do Brasil e pousar na Europa.

Já na Europa, acompanhado do mecânico Mendonça, supervisiona a montagem do aparelho quando é surpreendido pela notícia da morte de sua veneranda mâe (dia 07 de setembro de 1929) a quem dedicava profundo amor, causando-lhe, talvez, o primeiro grande abalo moral de sua vida. Encaixota o aparelho e volta ao Brasil. O avião é despachado para Santos e dali segue para o campo de pouso Latecoere, na Praia Grande, onde foi montado.

Ribeiro de Barros prepara-se para a sua segunda aventura aeronáutica. Batiza o novo avião com o nome de sua mãe – Margarida – e levantando vôo da Praia Grande vai pousar no Campo dos Affonsos no Rio de Janeiro, na convicção de que iria levantar vôo no dia seguinte, rumo à Europa, de acordo com o noticiário da imprensa.

Ao se dirigir, na manhã seguinte, ao Campo dos Affonsos, sob o aplauso de enorme multidão que o aguardava, as autoridades proibiram-lhe o acesso ao aparelho, retirando-o da pista sem maiores explicações. Eclodia a Revolução de 1930 e seu avião era confiscado pelo Governo.

Proibido até de aproximar do “Margarida”, profundamente abatido e decepcionado, adquiri ali mesmo os bilhetes para uma viagem de volta ao mundo, tomando barco de passagem pela Guanabara.

Em 1932, apressa-se no regresso à Pátria quando São Paulo de seus antepassados se ergue me armas pelo Movimento Constitucionalista. Fez a pé o percurso do Vale do Paraíba, chegando a Taubaté, onde se apresenta como voluntário, doando para o bem de São Paulo todo o ouro que conquistara em medalhas, troféus e placas, após o vôo do JAHÚ.

DE VOLTA A TERRA NATAL

Terminada a Revolução, Ribeiro de Barros retorna a Jahu, sua terra natal, recolhendo-se ao ambiente tranqüilo de sua infância e de sua adolescência.

Calado e solitário, entre as árvores e os animais, remoía com resignação e silêncio as adversidades e a incompreensão dos homens. Nem uma só palavra de protesto; mantinha-se superior a tudo.

Encontrava-se Ribeiro de Barros em sua fazenda “Irissanga”, quando é surpreendido pela presença de um Delegado de Polícia de São Paulo (Amaso Neto) acompanhado de oito investigadores que lhe dão voz de prisão por estar publicando um jornal clandestino contra a ditadura de Getúlio Vargas. Dão busca em toda a fazenda, bem como em sua casa, em Jahu. No dia imediato transportam-no para São Paulo, onde após vasculharem sua casa na Capital, e nada constatarem contra ele, dão-lhe de novo a liberdade.

Retornando à sua fazenda, profundamente descrente dos homens que mantinham o poder, sofre grande abalo moral e físico que o levaria à depressão e à morte. No silêncio das matas amigas, junto aos cafezais centenários, superior às perfídias humanas e alheio ao mundo das fraquezas, soberbo e altaneiro como o seu JAHU, ele fechou os olhos para sempre, ao lado de seu irmão Osório, aos 20 de julho de 1947.

Enquanto seu corpo baixava à sepultura no Cemitério Municipal de Jahu, sua alma empreendia o maior de todos os reides – o grande vôo para a eternidade, sendo sua lembrança recolhida ao Panteão da História.

Texto: Profº JOSÉ RAPHAEL TOSCANO.

Fonte: http://www.camarajau.sp.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=273%3Acmte-joao-ribeiro-de-barros-historia&catid=34%3Aleis&Itemid=125